terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Gira a Fita em...Milk


Mais do que um fabuloso filme, Milk pode ser visto como um documentário histórico, tal é a viagem pelos princípios do movimento gay que Gus van Sant leva o espectador a realizar, juntando a esta história verídica uma enorme quantidade de imagens de arquivo.
Harvey Milk (Sean Penn) é um homossexual que ao chegar aos 40 se apercebe que ainda não fez nada de que se orgulhe na sua vida, não tendo saído do armário e proclamado abertamente a sua homossexualidade, Harvey é uma pessoa como tantas outras com um emprego das 9h às 17h como todas as outras na sociedade estado-unidense dos anos 70/80. Contudo, no dia do seu 40º aniversário conhece Scott (James Franco) e viver a sua vida abertamente e deixar de ser vivido por ela encurralado em preconceitos que não são dele mas de uma sociedade pouco tolerante para com o movimento gay. De pequeno passo pessoal a luta colectiva foi muito pouco e Harvey vê-se obrigado a esquecer a sua própria vida enquanto indivíduo lutando pela "liberdade" de todos os homossexuais - da sua cidade a todos os Estados Unidos da América, levando esperança e coragem a todos os homossexuais do mundo inteiro, Harvey Milk foi um dos seus grandes heróis e primeiros forjadores de um mundo mais tolerante, esquecendo mesmo ameaças contra a sua própria vida.
Com um cunho marcadamente biográfico, esta película começa por nos mostrar o fim, sabendo-se que antes do final da mesma, o protagonista irá morrer. No entanto, semelhante revelação, que poderia fazer a história perder alguma da sua força, é compensada pelo brilhantismo do trabalho de toda uma equipa de produção, desde a música (original) e pelo guarda-roupa e cenários que nos levam a viajar bem até à década de 80, passando pela realização, pela intercalação entre as imagens de arquivo e o filme em si, sem nunca poder esquecer as grandes interpretações do elenco, destacando a estrondosa prestação de Sean Penn (para mim e pelo que vi até agora, o vencedor mais justo para a estatueta de melhor actor - a ver vamos).
Milk é um filme que apela às nossas capacidades de autocrítica, tolerância e respeito pelos outros e pelas suas escolhas, e é, sem qualquer margem para dúvidas, um grandioso (mas não vistoso) filme que sugiro e destaco como um dos grandes filmes do ano e dos melhores que tive o privilégio de visionar nos últimos tempos.





Bem hajam!!!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Gira a Fita em...Australia


É indissociável o rótulo de história de amor quando falamos de Australia. Contudo, esta película é bem mais do que um bem conseguido romance, consegue ter características de épico histórico e leva o espectador a realizar uma viagem histórico-cultural, incutindo um espírito de reflexão sobre as questões raciais, de princípios e de valores, ao mesmo tempo que nos faz viver intensamente uma multiplicidade de histórias de amor - de uma mulher por um homem, de uma "mãe" por um "filho", pelas origens, crenças e pela "nossa" terra...
Não sendo, é certo, uma grande produção, pois alguns são os defeitos perceptíveis - nomeadamente no campo dos efeitos especiais nas cenas da debandada - é uma película que não pode passar despercebida e que terá obrigatoriamente de deixar alguma marca no espectador com o mínimo de sensibilidade, creio que apenas alguém de todo insensível não reflecte, chora ou até mesmo de auto-critica enquanto ser humano ao ver cenas como as passadas no "The Territory" com a personagem Magarri (David Ngoombujarra) ou com a forma como são tratadas as crianças mestiças, afinal fazemos todos parte de um mesmo mundo...
A estas problemáticas culturais, históricas e raciais, devem juntar-se ainda outras como o carácter documental do filme presente nas cenas relativas à II Grande Guerra ou à impetuosidade da vida no interior australiano duro e árido onde apenas os mais fortes e audazes sobrevivem, levando este filme para um plano mais humano.
Sem qualquer sombra para dúvidas, Hugh Jackman e Nicole Kidman concedem a este filme um maior valor, mas não posso deixar passar sem menção a prestação do jovem Brandon Walters (no papel de Nullah), o qual pode ter tido um óptimo trampolim, pelo menos merecida foi a oportunidade.

Resumindo, Australia fica em território de permeio entre um bom entretenimento e um épico histórico com pendor histórico. Numa época te tanto fervilhar cinematográfico e de alguma contenção financeira (com os preços dos bilhetes exorbitantes), coloco este filme - para aqueles mais indecisos - numa segunda linha de prioridades, para quem ainda não viu, ficará uma boa sugestão para um posterior aluguer.




Bem hajam!!!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Gira a Fita em...Changeling


Uma catadupa de emoções.

Clint Eastwood assina um filme duro, perturbador e extremamente exigente em termos emocionais que valeu a esta película a nomeação para três estatuetas douradas de Hollywood (talvez merecendo alguma enquanto filme), incluindo a indiscutível nomeação de Angelina Jolie para melhor actriz.
Os primeiros momentos do filme servem para criar no espectador uma relação de empatia com o sincero e pleno de amor relacionamento entre Christine Collins (Jolie) - mãe solteira - e o seu filho Walter Collins (Gattlin Griffith). O primeiro golpe emocional surge pouco depois dessa empatia ser criada, com o misterioso desaparecimento de Walter, no dia em que deveria ter ido ao cinema com a mãe mas em que acaba por ter de ficar sozinho em casa. Confrontada com esta dolorosa situação, Christine tenta por todos os meios encontrar o seu filho e é, ironicamente, quando recorre à polícia que tudo se agrava ainda mais.
Decidindo ir contra tudo e contra todos (e convém não esquecer que o filme decorre nas décadas de 20/30 do século XX), descobrindo a fragilidade da posição social da mulher num sistema incrivelmente corrupto onde a mulher não era um elo mais fraco mas sim muitíssimo mais fraco, tratada sem dignidade e respeito pelas próprias forças de autoridade. Algum tempo depois, Christine é contactada com a "boa" notícia do encontro do seu filho. Contudo, ao ir receber o rapaz encontrado, este não é o seu filho e esta mãe vê-se envolvida num jogo sem escrúpulos no qual era um fantoche para uma polícia que não podia passar uma imagem de inoperância e incompetência, sendo forçada a receber este "filho".
Christine não desiste e vai mover montanhas até obter respostas. Uma história de luta e esperança com o amor materno como energia motivadora, que convém não esquecer é baseada em acontecimentos verídicos.

Quanto a presenças no ecrã, escusado será apresentar Angelina Jolie mas quero somente destacar a sua prestação, uma das melhores (se não a melhor) que vi por parte desta actriz, certamente que a maternidade a nível pessoal terá ajudado a um tão marcante desempenho. Mas quero destacar a presença de Malkovitch, que nunca passa como "mera" personagem secundária, e duas personagens em particular - Gordon e o Capitão Jones. Mais ou menos a um terço deste filme, a história sofre uma reviravolta com o surgimento da personagem Gordon Northcott (Jason Butler Harner - The Good Shepherd) e que empresta a esta película um lado mais macabro e sombrio mas simultaneamente emotivo. Uma presença mais constante ao longo do filme e uma personagem pela qual chegamos mesmo a nutrir alguma empatia no final do mesmo por ser como que um bode expiatório para a ganância de poder daqueles que acima dela na pirãmide se econtram é o Capitão J. J. Jones (Jeffrey Donovan - entre nós mais conhecido pela série televisiva Burn Notice) mas que tem vindo a evoluir consideravelmente enquanto actor e que empresta, por sua vez, ao grande ecrã uma das suas mais curiosas e interessantes características enquanto actor, a sua expressividade e presença, não sendo dos melhores actores a outros níveis, tem vindo a progredir positivamente.

Um filme sem dúvida a ver e que merece reconhecimento em forma de estatueta dourada por parte da Academia, e que melhor distinção do que o merecido Óscar de Melhor Actriz para Angelina Jolie...veremos, pois também não tive ainda a oportunidade de visionar os filmes onde entram as outras senhoras candidatas, contudo este é já um adversário de peso.





Bem hajam!!!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Gira a Fita em...The Curious Case of Benjamin Button



SUBLIME - esta era a única palavra que encontrava de cada vez que queria classificar esta película.

David Fincher apresenta-nos uma história bizarra sobre um homem que nasceu com sinais de extrema velhice mas que ao longo da vida vai...rejuvenescendo. Uma história que contraria o ciclo normal da vida brilhantemente adaptada por Eric Roth - já entre nós conhecido de guiões de igual brilhantismo como Forrest Gump ou The Horse Whisperer - do conto homónimo de Scott Fitzgerald.
Se no que ao desempenho feminino diz respeito nada existe de especial a ressalvar visto o talento e presença de Blanchett ou Swinton ficarem bem patentes e serem já esperados, seria uma tremenda injustiça não destacar a boa agradável surpresa que foi a actriz Taraji Henson (Queenie). No entanto, quanto ao desempenho masculino, a interpretação de Brad Pitt é fabulosa, ajudada por um igualmente bastante bom trabalho de maquilhagem, quer no envelhecimento quer no rejuvenescimento de Pitt, mas que permite contudo atestar do bem realizado trabalho cénico deste actor, visto de certa forma vestir várias "peles" através de toda a história e a corrente de acontecimentos estar, para a sua personagem, invertida - fico bastante curioso em relação ao que deverei esperar de outros candidatos à estatueta dourada de melhor actor.
Devo igualmente destacar duas outros áreas, a da fotografia, com primorosos planos e jogos visuais como os que sucedem com os espelhos nos contextos de ballet ou aquando da história preambular sobre o relógio de Monsieur Gateau (Elias Koteas) ou dos nasceres-do-sol. E a outra palavra de elogio vai para a discretíssima mas deliciosa banda sonora de Alexandre Desplat (Syriana, Michou d'Auber, Girl with a Pearl Earring), a propósito da qual ouvi algumas pessoas no fim do filme (ao escutar a música que acompanhava os créditos finais) exclamar: "O filme tinha banda sonora?!" - tinha mas a história envolve tanto o espectador que nem nos apercebemos, muitas vezes, que a banda sonora ajuda e muito a toda essa envolvência, e este filme era um desses brilhantes casos, a banda sonora está lá e é primorosa.

Não tenho muito mais a dizer ou a destacar pois todo o filme está soberbo, pelo que a única coisa que posso dizer em tom de conclusão é um imperativo "Vão ver!!!"

Tendo alguns conhecimentos de Literatura norte-americana, não posso deixar de aconselhar a leitura do conto de Fitzgerald que inspirou esta película ou, para aqueles que se não querem repetir, de outro conto deste maravilhoso escritor.




Bem hajam!!!

(Nova) Carta à navegação

Uma vez mais uma vida demasiado ocupada (ou três pequenas vidas simultaneamente vividas) tem-me afastado deste meu espaço. Contudo, uma paixão é sempre uma grande motivação e se não move montanhas, serras moverá com certeza!!! Como já se puderam aperceber (aqueles que visitam o meu espaço e me conhecem), uma das minhas paixões é o cinema e servirá nos próximos tempos como catalisador para regressar a uma escrita mais activa (pelo menos assim o espero), e bom seria que me desse o empurrãozinho para regressar (DEFINITIVAMENTE) a uma escrita mais frequente.
Assim, encontrei uns minutos para escrever mesmo (pois muitos são os textos que ficam à espera de ser limados e depois nunca publicados) dois textinhos para a minha rubrica "Gira a Fita em...", a qual estará em destaque este mês visto estarmos já com os Óscares na sua última fase de cozedura e quase, quase a sair do forno.
Esperando poder vir a ajudar alguns e poder partilhar opiniões com alguns apaixonados pela Sétima Arte como eu, desejo-vos boas leituras, bons filmes (de preferência no cinema!!!) e...





Bem hajam!!!

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Parque Jurássico?!


Os cientistas da Universidade Estadual da Pensilvânia, Webb Miller e Stephan Schuster, reconstituíram o genoma do mamute (Mammuthus primigenius). Este é primeiro animal já extinto a ter o seu mapa genético desvendado.
Para a realização deste trabalho em muito contribuiu o facto de ter sido utilizado como base para pesquisa o corpo integral de um mamute encontrado congelado ao fim de milhares de anos e em condições incrivelmente boas, o que permitiu que se pudesse ter o pêlo de mamute e não apenas o seu esqueleto, visto o ADN capilar ser mais resistente a uma possível contaminação pelo ADN de bactérias ou fungos, e resistir igualmente melhor às agressões inerentes à passagem do tempo.
Descodificado o genoma do mamute, o mundo científico começa já a levantar possibilidades e a divagar sobre a possibilidade de ressuscitar este gigante lanudo. Qual Parque Jurássico de Michael Crichton, a comunidade científica fervilha com essa hipótese mas com uma perfeita consciência da realidade presente, os próprios empolgados cientistas são os primeiros a reconhecer que no momento presente tal não é ainda possível dada a complexidade de semelhante processo. Segundo o especialista Henry Nicholls, em entrevista que pode ser lida na revista Nature, tal processo requereria um elevado domínio das várias etapas da "ressuscitação", como a definição dos genes a usar, a busca de um ovócito compatível (sendo o de elefante a escolha mais natural) ou a transferência do embrião para uma "barriguinha de aluguer".
Certo parece ser que levar a termo um semelhante processo poderá revelar descobertas que permitiram fazer enormes progressos em várias áreas da medicina humana e animal, e ciência me geral, passando desde a descodificação de outros genomas animais, a maior exploração de áreas tão controversas como a clonagem, ou até o prolongamento da vida humana...

Questões ético-científicas à parte, podemos, claro, por uma lado sonhar com uma terra habitada por tais gigantes (enquanto forem vegetarianos!!!), mas também pensar, qual pedido de desculpa à Natureza, em repor neste nosso planeta determinadas espécies que "fizemos o favor" de extinguir...contudo, talvez espécies mais próximas cronologicamente do nosso tempo.

P.S.: Para informações com maior detalhe e rigor científico - http://www.nature.com/news/2008/081119/full/456310a.html.





Bem hajam!!!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Passando a batata quente...


Já é uma característica bem portuguesa, sempre que algo acontece envolvendo duas partes e o prejuízo de uma terceira e consequente necessidade de responsabilizar alguém, a culpa é sempre "do outro".
Tal foi o que sucedeu, desta feita, no dia internacional do antibiótico. Os farmacêuticos dizem que a culpa é dos médicos pois prescrevem este tipo de fármaco indiscriminadamente e por vezes escusadamente. Os médicos, por seu lado, afirmam que a culpa é dos farmacêuticos pois estes vendem antibióticos de uma forma demasiado leviana, pois lembremos que alguns antibióticos podem ser vendidos sem prescrição médica.
Contudo, como sempre acontece, existe um terceiro elemento nesta discussão - todos nós. Certeza temos que as pessoas estão cada vez mais frágeis e os vírus cada vez mais resistentes aos nossos antibióticos comuns, e tudo o que menos queremos saber é de quem é a culpa, pois nunca morre solteira, o que desejávamos (lá volto eu a pensamentos utópicos) era que ambas as partes assumissem a sua culpa, incluindo nós doentes que compramos antibióticos por uma pequena dor de cabeça, e juntos procurassem solucionar o problema, receitando menos e controlando mais. E já de agora, uns cházinhos com mel e um diazinho em casa ajudam muitas vezes e resolvem frequentemente o problema. E o que aconteceu às canjinhas das mães/avós?!



Bem hajam!!!